quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O PAPEL POLÍTICO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

Historicamente, ensinar Matemática não tem se constituído uma tarefa fácil. Às dificuldades intrínsecas ao processo de ensino da disciplina, somam-se as dificuldades decorrentes de uma visão distorcida da mesma, imposta inúmeras vezes aos educandos desde os contatos iniciais.

Sabemos que há uma enorme demanda de crianças e jovens que não suportam a Matemática, sentimento esse que aumenta com o passar dos anos. Muitos são os alunos que encontram grandes dificuldades com alguns conceitos matemáticos bem simples que, muitas vezes, nós professores conseguimos tornar inatingíveis. Na verdade, a grande maioria não consegue compreender o real significado das estruturas matemáticas. Quando muito, tornam-se perítos em manipular complicados conjuntos de símbolos e técnicas operatórias. Desta forma, a Matemática é geralmente internalizada como difícil e inacessível, tornando-se esse cenário bastante generalizado e admitido como natural.

Contudo, no momento atual, quando se discute sobre as contribuições que os professores darão para a transformação da nossa sociedade, torna-se oportuno analisar como essa contribuição se efetivará no âmbito dessa disciplina.

Assim, o aspecto central dessa reflexão passa a ser se o ensino de Matemática contribui ou não para as transformações sociais.

Como todo ensino, o de Matemática pode ou não contribuir para as transformações sociais, não apenas mediante a socialização do conteúdo de Matemática, mas também por uma dimensão política que é intrínseca a essa socialização. Trata-se, portanto, da dimensão política contida na própria relação entre o conteúdo matemático e a forma de sua transmissão-assimilação.

Entretanto, vale a pena ressaltar que não se trata de introduzir algo de político no ensino de Matemática. Alguns colegas educadores, no desejo de contribuir para as transformações sociais, têm procurado dar um caráter mais politizante ao ensino de Matemática. Tais tentativas têm centrado o ensino em torno de temas relacionados ao custo de vida, à alta dos juros, à formação de cooperativas etc. O objetivo real aí é o de que a Matemática não seja vista separada dos problemas sociais. Essa vinculação entre a Matemática e as necessidades sociais é realmente importante e tem sido destacada por vários educadores. Entretanto, não se pode perder de vista que o objetivo central daquele que se propõe a ensinar Matemática é o ensino da Matemática! Tal alerta parece desnecessário, mas muitas vezes o ensino do conhecimento matemático propriamente dito acaba relegado a segundo plano, fazendo com que o ensino propriamente dito seja desenvolvido assistematicamente, não contribuindo para a socialização do contéudo matemático.

Existe ainda aquela dimensão política intrínseca que pode, inclusive, estar contribuindo para o sentido oposto àquele proclamado pelo educador.

A questão então passa a ser a seguinte: mesmo que nós trabalhemos com afinco no ensino da Matemática, procurando contribuir para que as camadas populares assimilem essa ferramenta cultural tão necessária a sua vida, nosso trabalho pode estar sendo dirigido subliminarmente por objetivos opostos a essa contribuição. É o que ocorre quando, sem percerber, transmitimos, mediante o fazer-pedagógico, uma visão estática do conteúdo matemático, como se ele fosse pronto e acabado, como se ele tivesse sido sempre assim, como se seus princípios, suas regras fossem absolutas no tempo e no espaço. E procedemos assim com muito mais frequência do que pode parecer à primeira vista. E isso é incoerente com a proposta de contribuir para a transformação social, pois se vemos a Matemática estaticamente, estaremos contribuindo para que esse modo de ver as coisas seja adotado com relação a prática social do educando.

Se pretendemos contribuir para que os educandos sejam sujeitos das transformações sociais e do uso da Matemática nessas transformações, é necessário que contribuamos para que eles desenvolvam um modo de pensar e agir que lhes possibilite captar a realidade enquanto um processo, conhecer as leis internas desse processo, para que finalmente eles possam captar as possibilidades de transformação do real.

Não se trata do professor querer ou não que essa dimensão política exista. Trata-se de dirigir intencionalmente essa dimensão em função dos objetivos que proclama.

Portanto, urge que resgatemos o papel do professor de Matemática como educador, adotando em nossa prática pedagógica uma postura eminentemente crítica à realidade educacional vigente e contribuindo de forma comprometida e competente para a transformação do sistema de ensino como um todo. Joaquim.


Joaquim Ribeiro de Sousa Neto, foi professor da rede oficial de ensino e da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sertaneja

Sertaneja,
Por que choras quando eu canto?
Sertaneja,
Se este canto é todo teu...
Sertaneja,
Prá secar os teus olhinhos
Vai ouvir os passarinhos
Que cantam mais do que eu.


Quando ouço ou leio essa maravilha, só me vêm à memória a figura, hoje, frágil, de uma das mais bravas sertanejas que eu já vi. Dessas que não se deixa abater, que não se deixa quebrantar, mesmo, hoje, como já disse, frágil, é como bem disse o salmista, inabalável, como o monte de Sião!


Desde a sua infância, aliás, como ela mesmo disse, que descobriu ao longo do tempo que, "foi uma menina que não teve infância", trabalhou, desde os sete anos, para ajudar seus pais na roça, isso a partir das cinco horas da manhã, para espantar os pássaros, que se dispersavam, mas quase sempre voltavam em busca de uma semente, era preciso ficar sempre esperta, mesmo sendo tão cedo e ela tão criança!

Mas, minha personagem, cresce, desabrocha coma uma flor, fica uma jovem linda e, passa a ser cobiçada, ou como ela mesma conta, "perseguida pelos rapazes que vinham atrás de mim!" Ficava certamente, lisonjeada, como é próprio dos jovens nesta fase maravilhosa da vida, mas eles perdiam o seu tempo, o coração da minha sertaneja não dominava mais seus impulsos, já não lhe pertencia mais, lhe fora roubado aos desesseis anos, na festa do Rosário, como diz ela, "foi um impulso, levantei os olhos para um homem pela primeira vez. Ali começou a minha história com o José." O Zé Madalena, aquele do terno branco, gravata vermelha e, sapato de bico chocolate e, que tinha muitas muitas namoradas! Mas seu coração, também foi fisgado pela minha sertaneja!

Certamente a pergunta que o Drumond faria no seu poema, era para o Zé Madalena. E AGORA JOSÉ? Na verdade, ali se iniciava uma bela e fascinante história de amor, desses, que talvez não existam mais, e que os nossos novelistas ainda não tiveram a inspiração para criar.
Casaram-se, curtiram e curtem até hoje esse grande amor! Constituíram uma família maravilhosa, linda! Miriam, nossa Mira, Tia Marise, Faustino Jr., o tio Zeza, Josebias, o Tod, doutor em resistências dos materiais, Marinese, a querida tia Neze, Moacir, o nosso amado, tio Moa, Débora, nossa Débora, ainda hoje, para mim, Frebel e Marcos Vinícios, nosso camarada amigo! Todos, sementes maravilhosas, germinadas desse amor e concedidas por Deus.
A sertaneja a quem me refiro, nestas linhas é Dona Chica, Dona Preta, Vovó Quica, Dona Francisca, esposa, mãe, sogra, poeta e, agora também a escritora, Francisca Serafim dos Santos, que acabou de lançar "A menina que espantava pássaros.", livro em que relata a sua história da sua vida. Parabéns, minha sertaneja, e que a senhora continue a sua missão de "espantar pássaros, para proteger sementes preciosas!
Joaquim.

RECORTES DO PABLO NERUDA

Para Tiago, meu sobrinho distante, e tio Moa, querido cunhado, angustiados, como quase todos nós, com a existência e, com a forma de como percorrê-la, como se houvesse alguma perfeita, completa e infalível, tal uma fórmula matemática, transcrevo para nossa meditação, esses conhecidos recortes do Pablo Neruda.

MORRE LENTAMENTE
QUEM SE TRANSFORMA EM ESCRAVO DO HÁBITO
REPETINDO TODOS OS DIAS OS MESMOS TRAJETOS,
QUEM NÃO MUDA DE MARCA, NÃO SE ARRISCA A VESTIR UMA NOVA COR,
OU NÃO CONVERSA COM QUEM NÃO CONHECE.

MORRE LENTAMENTE
QUEM EVITA UMA PAIXÃO E SEU REDEMOINHO DE EMOÇÕES,
JUSTAMENTE AS QUE RESGATAM O BRILHO DOS OLHOS
E OS CORAÇÕES AOS TROPEÇOS.

MORRE LENTAMENTE
QUEM NÃO VIRA A MESA QUANDO ESTÁ INFELIZ COM O SEU TRABALHO, OU
AMOR,
QUEM NÃO ARRISCA O CERTO PELO INCERTO PARA IR ATRÁS DE UM SONHO
QUEM NÃO SE PERMITE, PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA, FUGIR DOS
CONSELHOS SENSATOS...

MORRE LENTAMENTE QUEM NÃO VIAJA,
QUEM NÃO LÊ,
QUEM NÃO OUVE MÚSICA
QUEM NÃO ENCONTRA GRAÇA EM SI MESMO.

MORRE LENTAMENTE
QUEM DESTROI SEU AMOR PRÓPRIO,
QUEM NÃO SE DEIXA AJUDAR.

POR ISSO,
VIVA HOJE!
ARRISQUE HOJE!
FAÇA HOJE!
NÃO SE DEIXE MORRER LENTAMENTE!
NÃO SE ESQUEÇA DE SER FELIZ!

Qual de nós, não vislumbra um pouco, ou quem sabe, um muito, de si mesmo, nesses recortes? Joaquim.

domingo, 23 de janeiro de 2011

A VOLTA DO J.R.

Em 04 de Outubro de 2009, fizemos nossa última publicação, já faz um tempinho, não? Alguns motivos contribuíram para isso, mas passaram, fizeram parte de um outro contexto, já até mesmo esquecido. O importante é que estamos voltando, alguns amigos nossos nos cobraram isso, e quem sabe, daí venha a motivação para a VOLTA DO J.R.
Nesta primeira postagem, gostaríamos para nossa reflexão, de publicar um texto em homenagem a um dos maiores escritores do século, o argentino, Jorge Luiz Borges, falecido na Suíça em 1987, denominado,
INSTANTES.

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria em mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da minha vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, por isso, não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um páraquedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

Como responsável, escolhi esse texto, para marcar a volta do nosso blog, porque também muito me identifico com ele, às vezes, vivo igual a ele e, finalmente, porque é uma homenagem a vida! Joaquim.